CHANG DAI CHIEN
Chang Dai-chien é considerado como o Picasso chinês, foi um dos maiores e mais versáteis pintores da China.
Alguns afirmam que ele pode ter seu lugar entre os maiores pintores do mundo.
Também foi um grande colecionador e falsificador de obras de arte.
Originalmente conhecido como um guohua (tradicionalista), pelo ano de 1960 ele foi reconsiderado como um impressionista moderno e pintor expressionista.
Chang é lembrado como um dos mais premiados pintores do século XX.
Nascido em uma família de artistas em Neijiang, Sichuan, China, em 1899 ele estudou técnicas para tingir tecidos em Kyoto, Japão e retornou para estabelecer uma célebre carreira vendendo suas pinturas em Shanghai.
O general dos Muçulmanos chineses e governador de Qinghai, Ma Bufang enviou Chang para uma capela tibetana para procurar ajudantes aptos a analisar e copiar a arte budista.
Admirador do mestre Shitao, pintou diversos quadros que foram vendidos por altos valores por acreditarem ser quadros do século XVII.
Até 1941, as obras de Zhang Daqian basearam-se principalmente nos “Quatro Grandes Pintores Monges da Dinastia Qing” (Hong Ren, Kun Can, Bada Sharen e Shitao), os quatro mestres da escola de Wu da dinastia Ming (Shen Zhou, Wen Zhengming, Tang Yin, Qiu Ying) e paisagistas da Dinastia Yuan (Huang Gongwang, Wu Zhen, Ni Zan e Wang Meng) .
Em 1941, Chang fez uma viagem às pouco exploradas cavernas de Dunhuang, um paraíso artístico com milhares de pinturas milenares, com 2.415 estátuas pintadas, esculturas, cerca de 50.000 escrituras budistas documentos históricos, entre outros itens de valor inestimado que ficaram escondidos da civilização até o ano de 1900.
Lá, ele estudou as pinturas coloridas chinesas e mudou seu estilo, adotando técnicas e cores utilizadas em pinturas históricas pouco conhecidas e abandonadas pela cultura chinesa.
Militante político do Kuomintang, deixou a China em 1948 e, após a segunda revolução chinesa, mudou-se sucessivamente para Hong Kong, Darjeeling (Índia), Argentina e, enfim, em 1953, se instala em Mogi das Cruzes, onde permaneceu até 1970 e ainda residem seus filhos.
Um encontro entre Chang e Picasso em Antibes (França) no ano de 1953 foi visto como o encontro dos proeminentes mestres da arte do leste e oeste.
Os dois mestres trocaram diversas pinturas durante este encontro.
No Brasil, Chang constrói sua residência ideal graças aos fundos reunidos pela venda, ao governo chinês, de duas preciosas pinturas antigas.
Criou o famoso Jardim das oito virtudes (Bade Yuan) e cavou um lago ornado de cinco pavilhões (Wu Ting Hu).
No início dos anos 60, Chang abandona o estilo guohua de pintura com contornos traçados, volta ao da xieyi: pintura com tinta de expressão pessoal e finalmente desenvolve um estilo expressivo de tinta espirrada que o diferencia de todos os outros pintores.
Como falsificador, Chang criou obras tão perfeitas que chegaram e ser vendidas por milhares de dólares.
Diferentemente das falsificações comuns, suas obras, mesmo depois de serem reconhecidas como falsificações, permaneceram nos museus para serem admiradas.
Assim como grande parte do Ocidente, o Brasil ainda não abriu os olhos para a riqueza da arte chinesa.
Chang Dai-chien, atualmente tem um momento de grande destaque no mercado artístico internacional décadas após sua morte.
Em 2011, o valor de suas obras negociadas em leilões fez dele o artista mais valorizado do mundo, vendendo mais de meio bilhão de dólares, à frente de nomes como o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e o norte-americano Andy Warhol (1928-1987).
Suas obras, espalhadas por todo o mundo, podem ser vistas especialmente no MAM de Nova York e o Jeu-de-Paume, de Paris
A cineasta sino-americana Weimin Zhang, professora assistente de Cinema na Universidade Estadual de São Francisco, está dirigindo um documentário sobre o mestre chinês e pretende vir ao Brasil conhecer os detalhes das quase duas décadas em que ele viveu na Região Metropolitana de São Paulo, no município de Mogi das Cruzes.
“Chang tem várias facetas. A mais importante é que ele era o mais antigo pintor tradicionalista chinês que estava ainda vivo há pouco tempo.
Ele pintava como se pintava no século 15, no século 13 – e, cá entre nós, também falsificou muita coisa dessa gente, mas muita coisa“, explica Teixeira Leite, professor aposentado da Unicamp, pesquisador e autor do livro: “A China no Brasil” e “Por Trás da Grande Muralha”
“Mesmo sendo reconhecido como um expoente das tintas na China do século 20, Chang ficou famoso por ludibriar renomados especialistas com as obras que forjava, emulando as técnicas e as características de lendas da pintura tradicional chinesa.
Nunca se sabe, na verdade, se são dele ou se são do camarada, tem essa nuvem escura sobre ele.
Inclusive houve um caso recente no Metropolitan, de Nova York, que foi um escândalo, uma das peças mais famosas, do século 10 “Riverbank”, supostamente atribuída ao pintor Dong Yuan, na verdade, era do Chang Dai-chien, pintada em Mogi”.
A professora chinesa radicada nos Estados Unidos afirma que sempre quis assistir uma produção audiovisual que abordasse essa parte da vida dele e discorresse sobre a “busca artística” do pintor.
“Como cineasta, eu acho que a experiência de vida dele no Brasil é extremamente importante, porque foi a que fez dele um mestre mundial, que conseguiu conectar o Oriente ao Ocidente.
E esse período foi, certamente, o ponto alto de sua vida”, afirma Weimin.
Foi na fase brasileira, a partir da década de 1960, que Chang adotou um novo estilo de pintura, que o aproximou da arte ocidental e, de certa forma, significou uma ruptura com a pintura tradicionalista que o tornou renomado.
A mudança definitiva foi em 1970.
Ele passou a ocupar uma ampla casa em Pebble Beach.
Voltou a Mogi das Cruzes em 1973.
Veio, pela última vez, ver o jardim que criara.
Em 1976, a convite do governo de Formosa, viajou para rever velhos amigos e decidiu-se por fixar residência em Taipe.
Morou inicialmente em um apartamento.
Pelo tempo suficiente para que um famoso arquiteto local desenhasse e erguesse uma casa e dois estúdios interligados por elevador.
Foi ali que mestre Chang Dai-Chien pintou seus últimos quadros, inclusive um muito grande, ao qual dedicou um ano de trabalho.
Com a saúde comprometia suas mãos e a catarata o impedia de definir as cores que eram sua própria vida.
Em abril de 1983, no Hospital Geral dos Veteranos de Taipe, Chang Dai-Chien morreu.
Deixou sua quarta esposa e 16 filhos.
fONTE:https://www.historiadasartes.com/prazer-em-conhecer/chang-dai-chien/Chang Dai-chien é considerado como o Picasso chinês, foi um dos maiores e mais versáteis pintores da China.
Alguns afirmam que ele pode ter seu lugar entre os maiores pintores do mundo.
Também foi um grande colecionador e falsificador de obras de arte.
Originalmente conhecido como um guohua (tradicionalista), pelo ano de 1960 ele foi reconsiderado como um impressionista moderno e pintor expressionista.
Chang é lembrado como um dos mais premiados pintores do século XX.
Nascido em uma família de artistas em Neijiang, Sichuan, China, em 1899 ele estudou técnicas para tingir tecidos em Kyoto, Japão e retornou para estabelecer uma célebre carreira vendendo suas pinturas em Shanghai.
O general dos Muçulmanos chineses e governador de Qinghai, Ma Bufang enviou Chang para uma capela tibetana para procurar ajudantes aptos a analisar e copiar a arte budista.
Admirador do mestre Shitao, pintou diversos quadros que foram vendidos por altos valores por acreditarem ser quadros do século XVII.
Até 1941, as obras de Zhang Daqian basearam-se principalmente nos “Quatro Grandes Pintores Monges da Dinastia Qing” (Hong Ren, Kun Can, Bada Sharen e Shitao), os quatro mestres da escola de Wu da dinastia Ming (Shen Zhou, Wen Zhengming, Tang Yin, Qiu Ying) e paisagistas da Dinastia Yuan (Huang Gongwang, Wu Zhen, Ni Zan e Wang Meng) .
Em 1941, Chang fez uma viagem às pouco exploradas cavernas de Dunhuang, um paraíso artístico com milhares de pinturas milenares, com 2.415 estátuas pintadas, esculturas, cerca de 50.000 escrituras budistas documentos históricos, entre outros itens de valor inestimado que ficaram escondidos da civilização até o ano de 1900.
Lá, ele estudou as pinturas coloridas chinesas e mudou seu estilo, adotando técnicas e cores utilizadas em pinturas históricas pouco conhecidas e abandonadas pela cultura chinesa.
Militante político do Kuomintang, deixou a China em 1948 e, após a segunda revolução chinesa, mudou-se sucessivamente para Hong Kong, Darjeeling (Índia), Argentina e, enfim, em 1953, se instala em Mogi das Cruzes, onde permaneceu até 1970 e ainda residem seus filhos.
Um encontro entre Chang e Picasso em Antibes (França) no ano de 1953 foi visto como o encontro dos proeminentes mestres da arte do leste e oeste.
Os dois mestres trocaram diversas pinturas durante este encontro.
No Brasil, Chang constrói sua residência ideal graças aos fundos reunidos pela venda, ao governo chinês, de duas preciosas pinturas antigas.
Criou o famoso Jardim das oito virtudes (Bade Yuan) e cavou um lago ornado de cinco pavilhões (Wu Ting Hu).
No início dos anos 60, Chang abandona o estilo guohua de pintura com contornos traçados, volta ao da xieyi: pintura com tinta de expressão pessoal e finalmente desenvolve um estilo expressivo de tinta espirrada que o diferencia de todos os outros pintores.
Como falsificador, Chang criou obras tão perfeitas que chegaram e ser vendidas por milhares de dólares.
Diferentemente das falsificações comuns, suas obras, mesmo depois de serem reconhecidas como falsificações, permaneceram nos museus para serem admiradas.
Assim como grande parte do Ocidente, o Brasil ainda não abriu os olhos para a riqueza da arte chinesa.
Chang Dai-chien, atualmente tem um momento de grande destaque no mercado artístico internacional décadas após sua morte.
Em 2011, o valor de suas obras negociadas em leilões fez dele o artista mais valorizado do mundo, vendendo mais de meio bilhão de dólares, à frente de nomes como o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e o norte-americano Andy Warhol (1928-1987).
Suas obras, espalhadas por todo o mundo, podem ser vistas especialmente no MAM de Nova York e o Jeu-de-Paume, de Paris
A cineasta sino-americana Weimin Zhang, professora assistente de Cinema na Universidade Estadual de São Francisco, está dirigindo um documentário sobre o mestre chinês e pretende vir ao Brasil conhecer os detalhes das quase duas décadas em que ele viveu na Região Metropolitana de São Paulo, no município de Mogi das Cruzes.
“Chang tem várias facetas. A mais importante é que ele era o mais antigo pintor tradicionalista chinês que estava ainda vivo há pouco tempo.
Ele pintava como se pintava no século 15, no século 13 – e, cá entre nós, também falsificou muita coisa dessa gente, mas muita coisa“, explica Teixeira Leite, professor aposentado da Unicamp, pesquisador e autor do livro: “A China no Brasil” e “Por Trás da Grande Muralha”
“Mesmo sendo reconhecido como um expoente das tintas na China do século 20, Chang ficou famoso por ludibriar renomados especialistas com as obras que forjava, emulando as técnicas e as características de lendas da pintura tradicional chinesa.
Nunca se sabe, na verdade, se são dele ou se são do camarada, tem essa nuvem escura sobre ele.
Inclusive houve um caso recente no Metropolitan, de Nova York, que foi um escândalo, uma das peças mais famosas, do século 10 “Riverbank”, supostamente atribuída ao pintor Dong Yuan, na verdade, era do Chang Dai-chien, pintada em Mogi”.
A professora chinesa radicada nos Estados Unidos afirma que sempre quis assistir uma produção audiovisual que abordasse essa parte da vida dele e discorresse sobre a “busca artística” do pintor.
“Como cineasta, eu acho que a experiência de vida dele no Brasil é extremamente importante, porque foi a que fez dele um mestre mundial, que conseguiu conectar o Oriente ao Ocidente.
E esse período foi, certamente, o ponto alto de sua vida”, afirma Weimin.
Foi na fase brasileira, a partir da década de 1960, que Chang adotou um novo estilo de pintura, que o aproximou da arte ocidental e, de certa forma, significou uma ruptura com a pintura tradicionalista que o tornou renomado.
A mudança definitiva foi em 1970.
Ele passou a ocupar uma ampla casa em Pebble Beach.
Voltou a Mogi das Cruzes em 1973.
Veio, pela última vez, ver o jardim que criara.
Em 1976, a convite do governo de Formosa, viajou para rever velhos amigos e decidiu-se por fixar residência em Taipe.
Morou inicialmente em um apartamento.
Pelo tempo suficiente para que um famoso arquiteto local desenhasse e erguesse uma casa e dois estúdios interligados por elevador.
Foi ali que mestre Chang Dai-Chien pintou seus últimos quadros, inclusive um muito grande, ao qual dedicou um ano de trabalho.
Com a saúde comprometia suas mãos e a catarata o impedia de definir as cores que eram sua própria vida.
Em abril de 1983, no Hospital Geral dos Veteranos de Taipe, Chang Dai-Chien morreu.
Deixou sua quarta esposa e 16 filhos.
Chang Daí Chien (Neijiang, 1899 - Taipei, 1983)
Vida e obra
O general dos Muçulmanos chineses e governador de Qinghai, Ma Bufang enviou Chang para uma capela tibetana para procurar ajudantes aptos a analisar e copiar a arte budista.
Admirador do mestre Shitao, pintou diversos quadros que foram vendidos por altos valores por acreditarem ser quadros do século XVII. Até 1941, as obras de Zhang Daqian basearam-se principalmente nos "Quatro Grandes Pintores Monges da Dinastia Qing" (Hong Ren, Kun Can, Bada Sharen e Shitao), os quatro mestres da escola de Wu da dinastia Ming (Shen Zhou, Wen Zhengming, Tang Yin, Qiu Ying) e paisagistas da Dinastia Yuan (Huang Gongwang, Wu Zhen, Ni Zan e Wang Meng) . Em 1941, Chang fez uma viagem às pouco exploradas cavernas de Dunhuang, um paraíso artístico com milhares de pinturas milenares, com 2.415 estátuas pintadas, esculturas, cerca de 50.000 escrituras budistas documentos históricos, entre outros itens de valor inestimado que ficaram escondidos da civilização até o ano de 1900. Lá, ele estudou as pinturas coloridas chinesas e mudou seu estilo, adotando técnicas e cores utilizadas em pinturas históricas pouco conhecidas e abandonadas pela cultura chinesa.
Militante político do Kuomintang, deixou a China em 1948 e, após a segunda revolução chinesa, mudou-se sucessivamente para Hong Kong, Darjeeling (Índia), Argentina e, enfim, em 1953, se instala em Mogi das Cruzes, onde permaneceu até 1970 e ainda residem seus filhos. No Brasil, Chang constrói sua residência ideal graças aos fundos reunidos pela venda, ao governo chinês, de duas preciosas pinturas antigas. Criou o famoso Jardim das oito virtudes (Bade Yuan) e cavou um lago ornado de cinco pavilhões (Wu Ting Hu). No início dos anos 60, Chang abandona o estilo guohua de pintura com contornos traçados, volta ao da xieyi: pintura com tinta de expressão pessoal e finalmente desenvolve um estilo expressivo de tinta espirrada que o diferencia de todos os outros pintores. Ao deixar o Brasil, Chang muda-se para Carmel (EUA), antes de sua residência definitiva em Taipei, Taiwan.
Um encontro entre Chang e Picasso em Antibes (França) no ano de 1953 foi visto como o encontro dos proeminentes mestres da arte do leste e oeste. Os dois mestres trocaram diversas pinturas durante este encontro.
Falsificações
Chang Dai-chien (chinês tradicional: 張大千, chinês simplificado: 张大千, pinyin: Zhāng Dàqiān, Wade-Giles: Chang Ta-chien) Considerado como o Picasso chinês, foi um dos melhores e mais versáteis pintores da China. Alguns afirmam que ele pode ter seu lugar entre os maiores pintores do mundo. Também foi um grande colecionador e falsificador de obras de arte. Originalmente conhecido como um guohua (tradicionalista), pelo ano de 1960 ele foi reconsiderado como um impressionista moderno e pintor expressionista. Chang é lembrado como um dos mais premiados pintores do século XX.
Vida e obra
Falsificações
Ver também
Referências
- ↑ Toni Huber. In: Toni Huber. Amdo Tibetans in transition: society and culture in the post-Mao era : PIATS 2000 : Tibetan studies : proceedings of the Ninth Seminar of the International Association for Tibetan Studies, Leiden 2000. [S.l.]: BRILL, 2002. p. 205. ISBN 90-04-12596-5Página visitada em 2011-05-29.
- ↑ http://www.icm.gov.mo/exhibition/daqian/significanceE.asp The Epochal Significance in Zhang Daqian's copies of Dunhuang Frescoes, Wei Xuefeng
- ↑ Sullivan, Michael. Modern Chinese artists: a biographical dictionary. Berkeley, California: University of California Press, 2006. p. 215. OCLC 65644580 ISBN 0-520-24449-4
- ↑ Sullivan, Michael. The meeting of Eastern and Western art. Greenwich, Connecticutt: New York Graphic Society, 1973. p. 198. OCLC 967349 ISBN 0-8212-0543-9
Links externos
- Zhang Daqian and his Painting Gallery no China Online Museum
- Chang Dai-chien Residence Memorial Hall no National Palace Museum
- Chang Dai-chien in California na San Francisco State University
- Chang Dai-chien - biografia (asianart.com)
- Chang Dai-chien no Cultural Affairs Bureau fr Macau
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Chang_Dai-Chien
Chang Dai-chien
Neve matinal, 1965
Chang Dai-chien, o Picasso chinês, e o Brasil
Primeira imagem: Lotus e patos mandarins, 1947. Acima: Lotus, 1965
Quando se abeirava dos 50 anos, Chang Dai-chien, já então um dos maiores pintores da China e reconhecido internacionalmente, decidiu por motivos políticos deixar o país. Após peregrinar por Índia, Europa e Estados Unidos, e viver algum tempo em Mendoza, na Argentina, ele resolveu se fixar, em fins de 1953, na pequena Mogi das Cruzes, onde pelos próximos anos levou vida retirada, em meio ao Jardim das Oito Virtudes e junto ao Lago dos Cinco Pavilhões por ele projetados, quase uma China em miniatura. A um canto do jardim, sob uma lousa, ele enterrava velhos pincéis e outros instrumentos já gastos de pintura ou caligrafia, como se fossem pessoas falecidas. Foi no sossego do ateliê de Mogi – o Pavilhão do Grande Vento –, onde nasceram as obras que exporia, com sucesso crescente, em Nova York e Tóquio, Paris e Londres, Chicago e Genebra, Bruxelas, Hong Kong e meia dúzia de outras cidades, embora raras vezes as tivesse mostrado no Brasil. Por aqui, poucos perceberam a importância daquele homenzinho de longas barbas brancas, vestido como os antigos letrados chineses, que todos os dias realizava extensas caminhadas apoiado a seu cajado, definindo-se como uma Árvore da Montanha, como que a sublinhar a própria solidão. É verdade que para isso muito contribuiu nunca ter aprendido o português, o que impossibilitava qualquer abordagem por quem não falasse o chinês; e que, mesmo quando pousava os olhos na paisagem de Mogi e de suas cercanias, o que via eram as montanhas, rios e vales da China ancestral, que trazia gravados na mente. Não se pense, porém, que não amou a seu modo o país que o acolheu, no qual encontrou a paz que buscava ao partir para terras longínquas. Disso é prova esse trecho de uma inscrição na pintura Letrado sobre uma colina, feita em 1963:
Senão, onde poderia me sentir em casa?
Ou a transcrição de um poema de Li Bo, numa obra de 1968 feita também em Mogi, na qual faz seus os sentimentos do grande poeta:
Sorrio, e nada respondo.
Minha mente está em paz.
Chang Dai-chien vivia no Brasil quando, em 1956, por ocasião de sua exposição individual no Musée d’Art Moderne, de Paris, foi visitar Picasso na Ville Californie, em Cannes. Apesar da barreira dos idiomas e da diferença de temperamentos e de expressão, mútua simpatia surgiu entre os dois, que na ocasião trocaram desenhos. Como deve ter sido emocionante o encontro entre os dois maiores pintores vivos, do Ocidente e do Oriente!
Ao alto: Crianças brincando sob romãzeira, 1948; ao centro, Lotus, 1948; e logo acima, Lotus vermelhos em tela dourada, 1975
Aos 60 anos, Chang Dai-chien, que era diabético, adoeceu seriamente dos olhos, o que o levou a se submeter a várias cirurgias, todas infrutíferas, nos Estados Unidos. Mas o embaçamento da visão levou-o a adotar um novo modo de pintar, no qual alguns críticos ocidentais detectaram a influência do abstracionismo expressionista então em voga, mas que ele próprio definiu como a retomada de uma técnica tradicional de pintura chinesa de pinceladas livres, de há muito em desuso – algo “vago e bruxoleante, mas com uma imagem dentro”, como dela disse o filósofo taoista Laozhi. Foi justamente entre 1967 e 1969, em Mogi das Cruzes, que Chang Dai-chien, fazendo uso de toques sintéticos e de pinceladas vigorosamente lançadas sobre o frágil suporte, produziu suas pinturas mais importantes, aquelas que lhe garantem a celebridade de que hoje desfruta no mundo das artes.
Chang Dai-chien deixou o Brasil em 1970, ao saber que o sítio onde vivera e trabalhara durante tantos anos estava prestes a ser inundado pelas águas de uma represa. Dirigiu-se inicialmente a Carmel, na Califórnia, onde já estivera em 1954, e onde, ao contrário do que ocorrera em nosso país, vivia cercado de amigos, fãs e curiosos, não só chineses, mas também professores universitários, artistas e inclusive hippies, que lhe ofertavam flores e o consideravam um dos seus. Em 1976, mudou-se outra vez, agora para Taiwan, de onde não mais se ausentaria até sua morte em 1983. Num amplo terreno próximo ao Museu Nacional de Taipé, ele construiu sua morada, hoje transformada em museu. Nos jardins, com as próprias mãos, colocou algumas pedras trazidas do Brasil – sentida lembrança do jovem país no qual viveu longos anos felizes.
Chang Dai-chien com a família, e no "Jardim das Oito Virtudes", em sua casa em Mogi das Cruzes (SP)
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